A Polícia Civil de São Paulo desarticulou um sofisticado esquema de roubo e receptação de joias que se estendia pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. O caso ganhou repercussão após uma das vítimas reconhecer, ao vivo, suas joias sendo vendidas em um programa de TV.
O crime ocorreu em Ribeirão Preto, interior paulista. Três homens invadiram uma residência e renderam quatro pessoas — um casal de idosos, o filho e uma funcionária — levando aproximadamente 300 joias e oito relógios da marca Rolex. Segundo os relatos, os criminosos sabiam exatamente o que procurar, indo diretamente ao cofre da casa. Uma das peças subtraídas era um colar de ouro e diamantes com o símbolo do Espírito Santo, adquirido há mais de duas décadas.
Semanas após o assalto, a esposa da vítima se deparou com o colar sendo exibido no programa televisivo “Mil e Uma Noites”, especializado em joias. Ao acompanhar a programação, ela identificou outras peças da sua coleção sendo vendidas. Para confirmar a suspeita, a família comprou oito itens, todos entregues com nota fiscal e certificado de garantia.
Prisão de influenciador digital revela elo com o esquema
Na quinta-feira (4), a polícia prendeu Diego de Freitas, conhecido nas redes sociais como “Diego Ouro”, em uma casa de luxo em Ribeirão Preto. Ele foi surpreendido e detido sem roupas. Com histórico de ostentação nas redes sociais — exibindo viagens internacionais e artigos de luxo — Diego é apontado como peça-chave na organização criminosa.
Outro suspeito, Welker dos Santos Ferreira de Mattos, também foi detido e reconhecido por testemunhas como um dos assaltantes. Até o momento, ele ainda não conta com defesa constituída.
Rastreamento das joias leva à sede de programa em Curitiba
Com os indícios reunidos, a Polícia Civil realizou diligências na sede do programa “Mil e Uma Noites”, em Curitiba (PR), onde foram encontradas outras joias subtraídas. O delegado Diógenes Santiago Netto revelou que o programa já havia sido alvo de investigação em 2009 por venda de peças de origem ilícita, mas o processo foi arquivado por falta de provas.
O responsável pelo programa, Paulo César Calluf, alegou que todas as joias comercializadas são consignadas por fornecedores rigorosamente selecionados. No entanto, não apresentou documentos que comprovassem a procedência dos itens. Um dos nomes citados como fornecedor é Haig Hovsepian, de Uberaba (MG), que teria negociado as joias com o programa por R$ 190 mil. Posteriormente, em depoimento à polícia, Hovsepian declarou ter comprado os mesmos itens de Diego de Freitas por R$ 170 mil.
A defesa de Hovsepian afirmou que ele se apresentou voluntariamente à polícia assim que soube da suspeita de que as joias eram ilícitas.
Apenas 10% das peças foram recuperadas
Até agora, a família conseguiu recuperar apenas uma pequena parte da coleção roubada. Segundo o proprietário, o crime foi direcionado especificamente às joias, o que levanta a suspeita de que os assaltantes agiram sob orientação de terceiros.
A promotora de Justiça Ethel Cipele afirmou que a investigação continuará, com o objetivo de identificar outros possíveis receptadores. “A quantidade de peças vendidas é muito significativa”, declarou. O delegado Diógenes Netto reforçou: “Se há roubo, é porque existe quem compre.”